Por Danilo Monteiro*
A banda Nhocuné Soul lança seu terceiro álbum, Banzo, tratando de forma dançante as feridas e prazeres do cotidiano dos cidadãos periféricos. O grupo se dedica agora mais ao samba-rock - que já esteve presente em seus trabalhos anteriores, Samba Rap Periférico e Amando e Sambando - porém antes mais misturado ao funk e ao rap. Desta vez com mais melodia e mais suingue, o trabalho embala uma boa pista de dança - mesmo que seja na sala de casa - sem deixar de lado o pensamento crítico e a postura engajada.
Assim, o mundo do trabalho está presente em “Engraxate” e “Vendedor de Samambaia”; a luta coletiva pelo espaço de moradia na cidade é abordada em “Beco 15”. O próprio nome do álbum já contém um ponto de vista sobre o assunto: banzo é o nome genérico dado às tristezas dos africanos tirados de suas terras no processo colonial, e escravizados pelo português. A canção que dá nome ao álbum, “Banzo”, traz esse tema para o presente e expande sua significação para além do contexto africano: trata-se de um samba cantado em espanhol por um argentino residente no Brasil, descendente de croatas: o músico Eugênio Vojkovic, convidado especial da banda. Já na faixa “Maloba ya Bana mboka”, a letra é recitada no idioma africano Lingala, uma língua falada no Congo.
A Nhocuné Soul, originária da zona leste de São Paulo, levando no nome seu bairro - Vila Nhocuné -, foi fundada no final da década de 1990 e desde então vem traçando sua trajetória nos espaços de música alternativa da cidade, tanto no “centro” como na “quebrada”, em shows de rua ou nos palcos de diversos SESCs, e até em peças de teatro. Assim, por exemplo, compuseram e executam, junto com o grupo teatral Dolores Boca Aberta, o premiado espetáculo A Saga do Menino Diamante - Uma Ópera Periférica,.
O álbum Banzo, produzido de forma independente, é o resultado de uma história artística e política da banda, do olhar que se coletiviza na luta, na labuta, como diz outra música do trabalho, “Recado de um Povo”. E nesse sentido, a canção provoca, desconfiando das soluções individualistas que estão em voga: “não bastaria uma simples saída para uma vida mais digna”
*Danilo Monteiro é jornalista e integrante do coletivo Dolores.
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